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Craque Imortal – Michael Laudrup

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Nascimento: 15 de junho de 1964, em Frederiksberg, Dinamarca.

Posição: Meia-atacante

Clubes: KB-DIN (1981-1982), Brondby-DIN (1982-1983), Juventus-ITA (1983-1989), Lazio-ITA (1983-1985 – emprestado), Barcelona-ESP (1989-1994), Real Madrid-ESP (1994-1996), Vissel Kobe-JAP (1996-1997) e Ajax-HOL (1997-1998).

 

Principais títulos por clubes:

1 Mundial Interclubes (1985) e 1 Campeonato Italiano (1985-1986) pela Juventus.

1 Liga dos Campeões da UEFA (1991-1992), 1 Supercopa da UEFA (1992), 4 Campeonatos Espanhóis (1990-1991, 1991-1992, 1992-1993 e 1993-1994), 1 Copa do Rei (1989-1990) e 2 Supercopas da Espanha (1991 e 1992) pelo Barcelona.

1 Campeonato Espanhol (1994-1995) pelo Real Madrid.

1 Campeonato Holandês (1997-1998) e 1 Copa da Holanda (1997-1998) pelo Ajax.

 

Principal título por seleção: 1 Copa das Confederações (1995) pela Dinamarca.

 

Principais títulos individuais:

Jogador Dinamarquês do Ano: 1982 e 1985

Prêmio Don Balón: 1991-1992

Eleito para o Time do Ano da European Sports Media: 1994-1995

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1998

Melhor Jogador Estrangeiro no Futebol Espanhol dos últimos 25 anos: 1974-1999

Eleito o 60º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999

Eleito o 25º Melhor Jogador Europeu do Século XX pela IFFHS

Eleito um dos 50 Melhores Jogadores do Século XX pela Voetbal International

Melhor Jogador Dinamarquês dos últimos 50 anos na premiação do jubileu da UEFA: 2003

FIFA 100: 2004

Eleito pela Federação Nacional de futebol da Dinamarca como o Melhor Jogador Dinamarquês de todos os tempos: 2006

 

“O Artista dos Passes”

Por Guilherme Diniz

Entre os grandes craques da história do futebol mundial, existiu um dinamarquês único que se sobressaiu perante dezenas e centenas de grandes atletas por possuir características que o tornaram um verdadeiro artista. Enquanto ele esteve atuando como jogador profissional, poucos rivalizaram com ele no quesito visão de jogo. Pouquíssimos conseguiram superá-lo em cavalheirismo. E quase ninguém foi tão perito na arte de dar gols aos companheiros como Michael Laudrup, considerado por muitos o maior jogador da história do futebol dinamarquês e um dos mais brilhantes meias que o mundo já viu. Com uma raríssima inteligência visual e de raciocínio para antever e arquitetar jogadas, Laudrup escreveu seu nome no rol de imortais de grandes clubes do planeta com suas assistências fenomenais e por ajudar os mais diversos atacantes, seja ele bom ou ruim, a conseguirem fama de artilheiros.

Mesmo com tanto talento e muitos títulos conquistados, a quem diga que ele poderia ter sido um pouco mais individualista em campo e mais “faminto” em diversos jogos. Se tivesse feito isso, ele teria para si o trono de melhor jogador dos anos 1990, lugar que permaneceu vago por mais que os diversos craques daquela época tenham brilhado. Ainda assim, Laudrup conseguiu ser ídolo em seu país, na Juventus, e, sobretudo, no Barcelona, onde viveu seus melhores anos e encantou as mais diversas e exigentes plateias com seus dribles infalíveis, seus toques de classe e seus passes por entre as mais estreitas lacunas e os mais improváveis espaços. É hora de relembrar.

 

Futebol no sangue

Brian, Finn e Michael Laudrup.
Brian, Finn e Michael Laudrup.

 

Nascido em Frederiksberg, um distrito da capital dinamarquesa Copenhague, Michael Laudrup cresceu respirando futebol por causa de seu pai, Finn Laudrup, atacante que fez carreira nos anos 60 e 70 e que atuou pela Seleção Dinamarquesa em 19 oportunidades, e da mãe, Lone, irmã do técnico Ebbe Skovdahl. Como não poderia deixar de ser, Michael Laudrup decidiu seguir a carreira do pai e começou ainda garoto a jogar futebol no Vanlose, equipe onde seu pai também deu seus primeiros chutes. Quando a família precisou se mudar para Brondby por causa do novo clube onde Finn Laudrup iria atuar, Michael e seu irmão mais novo, Brian, vestiram a camisa do time homônimo da cidade e mostraram rapidamente que o futebol era mesmo assunto de família.

Em 1976, o pai Finn foi jogar no KB e outra vez Michael teve que se adaptar a uma nova equipe. Mas foi por lá que o jovem de apenas 13 anos despertou o interesse do Ajax-HOL, que se encantou com a classe e a técnica do garoto e tentou de tudo para levar “Miki” até Amsterdã. No entanto, Finn Laudrup foi irredutível e disse que seu filho ainda era muito jovem para sair do país. Com isso, Michael ficou mesmo na Dinamarca e iniciou sua carreira profissional em definitivo no ano de 1981, pelo KB, até voltar ao Brondby, em 1982.

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No clube azul e amarelo, Michael mostrou rapidamente que seu talento era superior ao de seu pai (que encerrou a carreira no próprio Brondby um ano antes) quando fez dois gols na goleada de 7 a 1 da equipe sobre o Boldklubben 1909, na estreia do time na primeira divisão de 1982. Mais do que isso, Michael Laudrup foi o artilheiro do time no campeonato nacional com 15 gols, sendo o terceiro maior goleador do torneio. Foi a partir daquele ano que o meia iria encantar multidões com um futebol repleto de jogadas de efeito e um drible que se tornaria sua marca registrada: a puxada de bola para o lado com a perna direita e continuação da jogada com a perna esquerda, que deslocava seu marcador com naturalidade e precisão. Era um drible previsível, mas infalível!

Michael Laudrup, Denmark

Também em 1982, Michael Laudrup foi o primeiro jogador da história do Brondby a ser convocado para a Seleção Dinamarquesa, em junho daquele ano, no duelo contra a Noruega pela Copa Nórdica (ele marcou o gol de honra da Dinamarca na derrota por 2 a 1), e foi eleito o Melhor Jogador Dinamarquês do Ano, feitos notáveis para um jogador de apenas 18 anos. Diante de tantas realizações, outro clube quis levá-lo para terras estrangeiras: o Liverpool-ING, que prometeu um contrato de três anos, mas levou um “não” do jogador (que já mostrava sua personalidade forte) após dizer que o contrato seria de quatro anos, pois ele era “jovem demais e precisaria de tempo para se desenvolver”.

Em 1983, Laudrup seguiu prolifico e marcou nove gols no Campeonato Dinamarquês, tentos que ajudaram o Brondby a ficar mais uma vez na 4ª posição. No entanto, o craque não iria permanecer até o final. A Juventus-ITA conseguiu convencer Michael a atuar no crescente Campeonato Italiano e fechou o negócio por cerca de um milhão de dólares. Mas, para a ira do meia, a equipe de Turim precisou ceder Laudrup para outro clube por causa da imposição da UEFA, que permitia apenas dois estrangeiros por equipe (a Juve já tinha Boniek, polonês, e Platini, francês). Com isso, o dinamarquês foi jogar na Lazio – ele não gostou nada daquilo, pois se assemelhava ao que o Liverpool tinha feito anteriormente (prometer uma coisa e voltar atrás). Mas não tinha problema. Afinal, a estadia em Roma seria benéfica ao jovem.

 

Conhecendo o Calcio

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Com a camisa azul-celeste da Lazio, Michael Laudrup foi titular absoluto na temporada 1983-1984 e estreou na Serie A marcando os dois gols do time na derrota por 4 a 2 para o Hellas Verona, em 11 de setembro de 1983. Na partida seguinte, o craque fechou a goleada de 3 a 0 sobre a Internazionale e provou que era mesmo um jogador diferente. Com seus passes exuberantes, grande visão de jogo e talento para marcar belos gols tanto em jogadas normais quanto em cobranças de falta, Laudrup marcou oito gols e foi o artilheiro do time ao lado de Giordano.

Uma pena que a equipe romana vivia tempos difíceis e quase foi rebaixada. Na temporada seguinte, o craque esteve em campo nas 30 partidas do time celeste na Serie A, mas ele sozinho não conseguiu evitar a queda da Lazio para a segunda divisão. Felizmente para ele, a Juventus venderia Boniek para a Roma e, enfim, o dinamarquês poderia vestir a camisa alvinegra a partir da temporada 1985-1986.

 

Títulos e estrela na seleção

Pela Juventus, Laudrup começou tinindo e brilhou nos anos de 1985 e 1986.
Pela Juventus, Laudrup começou tinindo e brilhou nos anos de 1985 e 1986.

 

Em sua ida para a Juventus, Laudrup editaria, enfim, uma aguardada dupla ao lado de Michel Platini na linha de frente da equipe. E a expectativa por bons jogos foi atendida rapidamente. Com um elenco estrelar, a Juve manteve a hegemonia na década e foi campeã italiana com quatro pontos à frente da Roma, vice-campeã. Michael Laudrup disputou 29 dos 30 jogos da Velha Senhora e marcou sete gols, enquanto Platini esteve presente em todas as partidas e anotou 12 tentos. No final de 1985, Laudrup foi um dos destaques da Juventus na final do Mundial Interclubes, em Tóquio (JAP), na qual a equipe italiana fez um dos jogos mais eletrizantes da história do torneio contra o Argentinos Juniors-ARG. Após um primeiro tempo morno, os sul-americanos abriram o placar com Ereros, e Platini, de pênalti, empatou.

Castro deixou o Argentinos em vantagem, mas Laudrup decidiu mostrar para os japoneses do que era capaz quando recebeu uma bola na entrada da área argentina, tocou na ponta para Platini e fez uma tabelinha com o francês, que devolveu de primeira de maneira magistral para Laudrup invadir a área, driblar o goleiro e, sem ângulo, marcar um golaço: 2 a 2. O jogo foi para os pênaltis e a Juventus venceu por 4 a 2, embora o dinamarquês tenha desperdiçado sua cobrança. Também em 1985, Michael Laudrup foi eleito pela segunda vez na carreira o Melhor Jogador Dinamarquês do Ano.

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Além dos compromissos pela Juve, Laudrup também era presença assídua na Seleção Dinamarquesa que começava a mostrar sua força em solo europeu. Em 1984, o craque disputou a Eurocopa e ajudou sua equipe a chegar até as semifinais, quando a Dinamarca perdeu apenas nos pênaltis para a Espanha. Nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986, a seleção nórdica fez bonito e se classificou pela primeira vez a um Mundial com a liderança do Grupo 6, após vencer cinco jogos, empatar um e perder dois. Laudrup anotou quatro gols, sendo dois no triunfo por 4 a 2 sobre a URSS, um na goleada de 5 a 1 sobre a Noruega e outro na goleada de 4 a 1 sobre a Irlanda. Aquela Dinamarca era um reflexo puro da própria evolução do futebol de Laudrup, afinal, a seleção contava com grandes nomes como Morten Olsen, Lerby, Jesper Olsen e Elkjaer. Muitos acreditavam que a seleção dinamarquesa poderia até sonhar com um título na Copa do México. E tais previsões seriam reforçadas ao término na primeira fase daquele Mundial.

 

De máquina à carroça

O golaço contra o Uruguai...
O golaço contra o Uruguai…

 

... E a pane contra a Espanha: momentos distintos de Laudrup e sua seleção na Copa de 1986.
… E a pane contra a Espanha: momentos distintos de Laudrup e sua seleção na Copa de 1986.

 

Com 30 jogos e 17 gols pela seleção até antes da estreia dinamarquesa na Copa, Laudrup era uma unanimidade em seu país e tido como uma das maiores revelações do futebol europeu na época. E, na maior vitrine do futebol mundial, Laudrup exibiu todas as suas qualidades: dribles plásticos, passes perfeitos, arremates precisos, visão de jogo plena, velocidade e técnica acima da média. Na estreia, contra a Escócia, a Dinamarca venceu por 1 a 0, mas o placar não refletiu o amplo domínio que a equipe teve no jogo.

Tal dominância foi recompensada na partida seguinte, contra o Uruguai, quando a Dinamarca aplicou uma das maiores goleadas da história das Copas: 6 a 1, com Laudrup simplesmente sublime em campo. O craque participou do primeiro gol, de Elkjaer, quando driblou dois uruguaios e deixou para o companheiro marcar; ele mesmo fez o terceiro, quando passou por um, por dois, pelo goleiro e anotou um golaço; e ele construiu a jogada do quarto gol, quando partiu em direção à área, ganhou duas divididas e tentou encobrir o goleiro. Na sobra, Elkjaer fez.

Com uma atuação de gala, o craque ganhou elogios de todo o planeta e confirmou o que todo mundo na Dinamarca e na Itália já sabia – que ele era um craque. Na última partida da equipe na primeira fase, a Alemanha comandada pelo técnico Beckenbauer não foi párea para os nórdicos, que venceram por 2 a 0, com mais uma participação de Laudrup em um dos gols. Sensação da primeira fase, a equipe europeia já era uma das favoritas ao título. Mas, já nas oitavas, a aclamada Dinamáquina virou apenas a Dinamarca. Contra a Espanha, o time não viu a cor da bola e levou de 5 a 1, com quatro gols de Butragueño. Era o fim da “máquina” e do conto de fadas vivido pelos dinamarqueses naquele Mundial.

 

A tal da falta de apetite

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Depois da Copa, os fãs da Juve começaram a depositar suas maiores esperanças em Laudrup para o decorrer da década de 80, ainda mais após a aposentadoria de Platini, em 1987. Mas o jogador passou longe de assumir o protagonismo que tão bem caiu no francês. Na temporada 1986-1987, Laudrup sofreu com algumas contusões e atuou em apenas 20 jogos no Campeonato Italiano, com três gols marcados. Já na temporada 1987-1988, o craque atuou em todos os 30 jogos da Juve, mas não marcou um gol sequer, algo que gerou algumas críticas pelo fato de ele ser incapaz de chamar para si o jogo ou resolver um lance com um “egoísmo bom”. Michel Platini comentou sobre isso certa vez, em entrevista ao site da FIFA:

“(Michael) Foi um dos maiores talentos de todos os tempos. Era o melhor do mundo nos treinos, mas nunca explorou todas as suas qualidades durante os jogos. Ele tinha tudo, exceto uma coisa: não ser egoísta o bastante…” – Michel Platini.

A preocupação excessiva em dar gols para os companheiros ao invés de ele mesmo converter muitas das jogadas que criava ficaria ainda mais evidente nos anos seguintes. Em sua última temporada pela Juventus, Laudrup disputou 41 jogos no total e marcou 11 gols, desempenho melhor do que na anterior, mas ainda sim longe do que os italianos esperavam dele. Em 1988, o craque disputou sua segunda Eurocopa e marcou um gol, mas a Dinamarca caiu ainda na primeira fase. No ano seguinte, Laudrup se despediu da Juventus para assinar com o Barcelona-ESP, treinado na época por Johan Cruyff, que via em Laudrup o jogador perfeito para municiar os atacantes do time catalão no que viria a ser o Dream Team.

 

O auge

BT Sport, Football, pic: circa 1990, Spanish League, Michael Laudrup, Barcelona, 1989-1994

Sob o comando de seu ídolo de infância, Michael Laudrup encontrou o ambiente perfeito para tentar expandir suas qualidades em campo. O craque teria ao seu lado nos próximos anos jogadores de puro talento como Stoichkov, Guardiola, Ferrer, Nadal, Bakero, Koeman, Romário entre outros que fariam do Barça a maior potência da Espanha na primeira metade dos anos 90. A equipe iria praticar um futebol vistoso, ofensivo e com a cara de Cruyff, que sempre foi adepto da beleza e do Futebol Total. Logo em sua primeira temporada, Laudrup foi eleito o melhor “garçom” do Campeonato Espanhol e marcou seis gols em 42 partidas. Na temporada seguinte, o craque fez 11 gols em 42 jogos, sendo nove em 30 partidas do Campeonato Espanhol, desempenho que ajudou o Barça a vencer o torneio nacional daquele ano – que deu ao clube uma vaga na Liga dos Campeões de 1991-1992.

Legendary Laudrup

Na competição europeia, os catalães superaram os desafios das fases iniciais e da fase de grupos e se garantiram na decisão com grandes atuações de Laudrup, que marcou três gols e mostrou seu enorme talento nas bolas paradas, nos passes e nos dribles cada vez mais precisos e geniais. Na grande final de Wembley, contra a Sampdoria-ITA, o time blaugrana venceu por 1 a 0, com o gol do título marcado por Ronald Koeman já na prorrogação. Foi a primeira taça da Liga dos Campeões do Barça na história e o primeiro grande momento de Laudrup com a camisa do clube. Na mesma temporada 1991-1992, Laudrup foi eleito o melhor jogador do campeonato espanhol, o melhor jogador estrangeiro e foi um dos artilheiros da competição com 13 gols em 36 jogos. Aquela foi a melhor época do craque no time catalão em termos de gols – foram 18 em 49 partidas.

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Embora estivesse tinindo no Barça, Laudrup abdicou da seleção justamente no ano em que a Dinamarca iria vencer seu maior título: a Eurocopa. O craque entrou em conflito com o técnico Richard Nielsen em meados de 1991 e deixou a seleção jurando que não voltaria ao time. Laudrup ficou de novembro de 1990 até agosto de 1993 sem ser convocado, até voltar atrás e responder ao clamor da torcida que tanto o queria de volta à seleção. O craque fez as pazes com o técnico e voltou a jogar na equipe dinamarquesa, tendo o gosto de atuar junto com seu irmão, Brian, que já era titular do ataque da equipe na época.

Com os irmãos Laudrup em ótima forma, a Dinamarca seguiu competitiva mesmo após a não classificação para a Copa do Mundo de 1994 e, em 1995, bateu a Argentina de Ayala, Zanetti, Ortega e Batistuta por 2 a 0, com um gol de Michael Laudrup, e foi campeã da Copa das Confederações, para a alegria do craque, que levantou a taça, como capitão, juntamente com seu irmão.

Michael e Brian Laudrup com as taças após a conquista da Copa das Confederações.
Michael e Brian Laudrup com as taças após a conquista da Copa das Confederações.

 

Desavenças e ida ao rival

Mesmo sendo o maestro do Barça e capaz de lances fantásticos, Michael Laudrup ainda não tinha conquistado o técnico Cruyff. Para o holandês, o jogador nunca dava o seu melhor e sempre deixava menos do que podia oferecer, como o próprio Cruyff disse:

“Ele foi um dos jogadores mais complicados com o qual trabalhei. Quando ele jogava 80%, 90% do que podia, ele ainda estava longe do seu melhor. Eu sempre queria 100%, mas ele raramente atingia esse nível”.Johan Cruyff, em entrevista extraída do livro Laudrup – Et fodbolddynasti, de Christian Mohr Boisen.

Laudrup (ao centro) e Cruyff (à dir.): dupla foi crucial para o sucesso do Barcelona no começo dos anos 90, mas sucumbiram juntos em 1994.
Laudrup (ao centro) e Cruyff (à dir.): dupla foi crucial para o sucesso do Barcelona no começo dos anos 90, mas sucumbiram juntos em 1994.

 

Esse clima entre Cruyff e Laudrup começou a pesar mais quando Romário, o quarto estrangeiro do Barça, chegou ao clube em 1993 e forçou o técnico holandês a promover um rodízio entre suas estrelas “gringas” pelo fato de a UEFA restringir a três o número de jogadores de outros países nos clubes. Com isso, Laudrup não foi titular absoluto na temporada 1993-1994, e disputou seu menor número de partidas desde seu primeiro ano no clube: 38 jogos, com seis gols marcados. E justo na partida que ele mais queria jogar, Cruyff o deixou no banco: na final da Liga dos Campeões de 1994, quando o Barcelona enfrentou o Milan-ITA.

Ambas as equipes tinham mais de três estrangeiros e Michael, pelo Barça, e seu irmão, Brian, pelo Milan, ficaram de fora de um curioso embate entre irmãos em plena final de Liga dos Campeões. Cruyff preferiu escalar Romário, Stoichkov e Koeman entre os não-espanhóis para alívio de Fabio Capello, o técnico do Milan, que temia “demais” a presença de Laudrup em campo. Com isso, os italianos venceram por 4 a 0 (fora o baile) e conquistaram mais uma taça continental para sua vasta coleção. Aquela partida foi o fim simbólico do Dream Team do Barça, que se desmantelou nos anos seguintes.

Vestindo o manto merengue: passagem curta, porém marcante.
Vestindo o manto merengue: passagem curta, porém marcante.

 

Ao término da temporada, Michael Laudrup surpreendeu a todos quando assinou contrato com o Real Madrid-ESP, o maior rival do Barcelona. A torcida catalã ficou furiosa com a saída de um ídolo para o lado merengue, mas Laudrup se mostrou avesso a tudo aquilo pelo fato de querer continuar vencendo títulos, algo que ele não acreditava ser mais possível no Barça:

“As pessoas diziam que eu quis ir para o Real por vingança. Vingança do quê? Eu tive cinco anos maravilhosos no Barça! Eu fui para o Real porque eles estavam com vontade de vencer, por terem novos jogadores e certos de que a grande fase do Barcelona havia acabado”.Michael Laudrup.

E as previsões do jogador se mostraram certíssimas. Já na temporada 1994-1995, o Real Madrid quebrou a hegemonia catalã e foi campeão espanhol com direito a uma goleada de 5 a 0 sobre o Barça exatamente um ano depois de o mesmo time blaugrana aplicar 5 a 0 nos merengues. Iván Zamorano, atacante madrileno na época, marcou três gols e um deles teve passe de Laudrup, que fez uma de suas melhores partidas na carreira. O chileno se rendeu ao talento do dinamarquês naquela época e disse que a “razão pela qual ele marcava gols era Laudrup”. O artista nórdico permaneceu no Real até a temporada seguinte, tendo disputado 76 jogos e marcado 15 gols com a camisa merengue.

 

Despedida pela seleção e últimos momentos

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Após disputar sua última Eurocopa na carreira, em 1996, Michael Laudrup capitaneou a Dinamarca rumo à Copa do Mundo de 1998, quando a equipe ficou na primeira posição de seu grupo nas Eliminatórias, a frente da Croácia e da Grécia. No Mundial, o capitão já não tinha a velocidade de antes, mas a genialidade e a precisão em cadenciar o jogo e dar seus habituais passes ainda estavam intactas. Laudrup foi crucial para a classificação dinamarquesa à segunda fase após vitória sobre Arábia Saudita (1 a 0), empate contra a África do Sul (1 a 1) e derrota para a França (2 a 1). Em segundo no grupo C, os nórdicos encararam a surpreendente Nigéria nas oitavas de final e Laudrup mostrou sua arte ao dar duas assistências para os gols de Moller e Sand na goleada de 4 a 1. O grande destaque foi o passe sublime do craque no gol de Sand, um sutil toque pelo alto que deixou atônita a sem reação alguma a defesa nigeriana.

Contra o Brasil, Laudrup fez seu último jogo com a camisa da seleção dinamarquesa.
Contra o Brasil, Laudrup fez seu último jogo com a camisa da seleção dinamarquesa.

 

Nas quartas de final, Laudrup teve pela frente o forte Brasil, que acabou vencendo o jogo por 3 a 2 e se classificou para a semifinal após um duelo eletrizante e repleto de grandes lances e oportunidades. O primeiro gol do jogo, da Dinamarca, foi feito em família, com Michael Laudrup cobrando uma falta rápida para seu irmão, Brian, surpreender a defesa brasileira e marcar logo no comecinho (mesmo com a eliminação, cinco dos nove gols da Dinamarca naquela Copa tiveram participação de Laudrup). E coube ao Brasil ser a última vítima do talento de Michael. Após o revés, o capitão anunciou sua aposentadoria da seleção em definitivo após 104 jogos e 37 gols ao longo de 16 anos.

No Ajax, o craque teve seus últimos momentos de glórias.
No Ajax, o craque teve seus últimos momentos de glórias.

 

Na sequência, Laudrup ainda se aventurou no futebol japonês e retornou à Europa para encerrar a carreira no primeiro grande clube estrangeiro que se interessou por seu futebol lá nos anos 80: o Ajax. Em solo holandês, Laudrup marcou 11 gols em 21 jogos no campeonato nacional e faturou seu último grande título na carreira, que veio em dobradinha com a conquista da Copa da Holanda na mesma temporada de 1997-1998. Com 34 anos e consagrado, Michael Laudrup se aposentou em definitivo do futebol ao término daquela temporada para virar comentarista esportivo e, na sequência, técnico de futebol, cargo que ocupa até hoje e no qual já teve glórias pelo Brondby-DIN (duas copas nacionais, uma superliga e uma supercopa nacional) e pelo Swansea City-WAL (uma Copa da Liga Inglesa).

 

Artista eterno

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Após pendurar as chuteiras, Michael Laudrup recebeu várias honrarias e foi sempre lembrado em listas e mais listas de melhores jogadores do século XX, além de superar vários atletas de seu país e ser eleito o melhor da história na Dinamarca. Embora tenha convivido com as críticas de seu jeito solidário ao extremo dentro de campo, Laudrup foi um craque incontestável e unânime no meio esportivo, a ponto de arrancar elogios de nomes como Beckenbauer  – que disse que “Pelé foi o melhor nos anos 60, Cruyff nos anos 70, Maradona nos anos 80 e Laudrup nos anos 90” –; Romário – “foi o melhor jogador com o qual joguei na carreira e o 4º melhor da história, atrás do Pelé, do Maradona e de mim” -; Iniesta – “quem é o melhor jogador da história? Michael Laudrup” –; Stoichkov – “dos mais de cem gols que eu fiz pelo Barcelona, tenho certeza de que mais de 50 deles foram frutos das assistências do Michael. Jogar com ele era extremamente fácil” –; e Figo  –“acho que o Laudrup foi o melhor jogador que eu enfrentei”.

Lenda do esporte, Laudrup imortalizou seus feitos e também uma famosa frase, que ainda hoje soa como melhor dos mundos para aqueles atacantes pouco habilidosos e que nunca tiveram a companhia de um bom meia ao seu lado: “Apenas corra. O Michael sempre vai achar um jeito de te passar uma bola”. E como ele passou. Um craque imortal.

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Números de destaque:

Disputou 288 jogos e marcou 93 gols pelo Barcelona.

Disputou 104 jogos e marcou 37 gols pela Seleção da Dinamarca.

Disputou 718 jogos e marcou 201 gols na carreira.

 

Leia mais sobre o Dream Team do Barcelona e sobre a Dinamarca dos anos 90 no Imortais!

Barcelona 1988-1994

Dinamarca 1992-1995

 

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Comentários encerrados

9 Comentários

    • Olá Tiago, esse número não tenho. Aliás, não existe uma lista concreta e verídica com os jogadores com o maior número de assistências na história. O único dado que achei sobre ele foi em competições europeias: cerca de 19 assistências.

  1. Michael Laudrup foi um verdadeiro craque assim como o italiano Roberto Baggio e o galês Ryan Giggs, esses três que eu citei foram os melhores jogador que vi jogar.
    Michael Laudrup reinou a Liga BBVA, Roberto Baggio reinou a Serie A TIM e Ryan Giggs reinou a Premier League.
    Um forte abraço !

  2. Grande M.Laudrup. Um mito do futebol mundial e um craque que representou muito bem a Velha Senhora , a torcida blaugrana e a seleção dinamarquesa de futebol.

    • Como c.ronaldo e ibra … é um caso de craque que nasce no pais errado… tinha que ter nascido numa argentina , frança, italia …para ganhar ainda mais títulos por seleções !!!

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Seleções Imortais – Tchecoslováquia 1976

Esquadrão Imortal – Atlético-MG 2012-2014